quinta-feira, janeiro 25, 2007

Zombie Walk - Manaus - 2007

"Manaus é a cidade dos mortos. A Manaus que você conhece está sobreposta sobre MANAOS, a terra dos mortos: etnias soterradas que vez por outra mostram suas caras em algum canteiro de obras na cidade. E isso não é algo que se reduz ao centro comercial (que na verdade é o sul da cidade), apenas à praça D. Pedro II; urnas funerárias de cerâmica brotam na região norte, no bairro Nova Cidade, aos cacos, devido à leveza dos tratores agindo sob o lema: "é preciso terraplenar". Os cacos ainda foram "salvos" por causa dos trabalhadores da obra que tiveram a sensibilidade de perceber que aquelas peças não fazem parte do "nosso" mundo, pois são de outra "dimensão histórica", de outra época, elas pertencem aos "outros" que vivem sob nossos pés."
"O IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, através de sua representante no Amazonas, Bernadete Andrade, vem desenvolvendo uma luta acirrada em defesa da preservação dos sítios arqueológicos da Praça D. Pedro II e do bairro Nova Cidade. Conta com o apoio do Ministério Público Federal, graças à sensibilidade do procurador Eduardo Barragan. No entanto, muitos empreiteiros que constroem casas na área do Nova Cidade permanecem insensíveis e não assumem suas responsabilidades."1
Situação paradoxal onde o peão tem mais sensibilidade do que o patrão emprenteiro (E agora Mestre Marivon?) Claro que não é tão paradoxal assim se observada pela ótica do capitalismo burro, soterrador e destruidor de riquezas que guia a cabeça de alguns tomadores de decisão.
Porém eis que chegou à minha cripta a informação de que os mortos de MANAOS virão tomar conta de Manaus em data incerta ainda, a contar a partir de abril. Trata-se da Zombie Walk Manaus, algo que no português corrente seria uma"Parada Zumbi". Uma caminhada de mortos vivos sobre os asfaltos esburacados de Manaus (dizem até que o portal de onde os zumbis vão sair é uma dessas crateras asfálticas conhecidas pelo nome de Porfirão).
Um percurso de alguns quilômetros onde os zubis desta terra reivindicarão seu espaço em Manaus. É uma mobilização política ou coisa de Emos ? Me pergunta alguém. Respondo: Será por pura diversão, meu caro, afinal, como serão as expressões faciais das pessoas de bem, das familias manauaras de classe média ao verem uma legião de zumbis pela Djalma Batista, parando o trânsito ? Como os de Manaus receberão os MANAÓS ?
As consequências são sempre políticas, mas o ato inicial é de pura diversão, porque no final do percurso haverá shows de bandas locais, como uma festa, até porque o Rock é o único que consegue unir diversão à coisa séria. E existe algo mais político do que os mortos se fazerem mais vivos que os vivos da cidade ?
Sim, essa cidade precisa de vida contra esse niilismo criado a partir do pólo industrial. O fantasma, que sempre nos apavora, de que a cidade depende vitalmente dessa entidade chamada "Polo Industrial da Zona Franca de Manaus", que opera como um portal que emana vida à cidade. FODA-SE o Pólo!! Sabemos que um dia ele morrerá como os MANAÓS morreram, mas a cidade continuará...
Sobre os EMOS, eles serão bem vindos assim como todas as "tribos" urbanas que quiserem participar, mas sem duvida não será um evento EMO.
Finalizando e parafraseando a célebre frase da Noite dos Mortos Vivos "Quando não houver mais lugar no Inferno, os mortos caminharão sobre a Terra"
No nosso caso seria, "Quando a mesmice, o tédio e a repetição tomarem conta de Manaus, os mortos caminharão sobre ela para fazer a festa"
1 Trecho extraído do TAQUIPRATI (Aê Bessa, consegui dar Ctrl+C no seu site, qualquer idiota conseguiria, sugiro você liberar de vez... lançou ao mundo é do mundo)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

"Pau neles! Companheiros!"
Theodoro Botinelly


Por um exorcismo dos "Anos 80"

Somos seres repetitivos. Fazemos as mesmas coisas (ou boa parte delas) todos os dias. A repetição toma conta da nossa vida transformando-nos em pêndulos. Pêndulos que guardam no interior do espaço que se compreende entre o "pra lá" o e "pra cá" tudo aquilo que chamamos de "rotina", mas na verdade a nossa vida conseguiu romper com a força do estático e adquirir o movimento, porém como ainda não aprendemos a lidar com esse movimento, assumimos de um modo geral a figura do relógio da sala, que se movimenta ali, parado junto a parede. Uma ilusão de movimento ? Uma ilusão de mudança ?
Atletas repetem seus exercicios para ver se conseguem, ali adiante, fazer o mesmo exercício repetido de forma melhorada. Professores repetem conteúdos já dados. Políticos repetem os mesmos discursos. Os pais repetem os mesmos erros. Os analistas repetem as mesmas análises. O cozinheiro repete a mesma receita. Médicos repetem as mesmas operações e os mesmos diagnósticos. Músicos repetem a mesma nota. Juízes repetem a mesma sentença. Poetas repetem as mesmas rimas e as mesmas imagens. A Globo repete os mesmos filmes. Roberto Carlos repete o mesmo show todo ano. O Porão do Alemão (para quem vive em Manaus) repete sempre as mesmas musicas. O SBT ainda repete o Chaves...os dias se repetem, as épocas se repetem.
Diante do nada, de um horizonte vazio onde o olhar nada encontra, nos resta olhar para trás e repetir, repetir e repetir. Tocar um foda-se à repetição é uma arte genuína e única. Não é uma mera revolta adolescente, pois revoltas assim costumam se repetir na adolescência, tanto que já estão devidamente catalogadas nos compêndios de 300 páginas da psicologia juvenil e afins. Tocar um foda-se não é como tocar uma punheta, e se isolar em um mundo fictício onde você tem acesso a quem quiser no lugar onde quizer, pelo menos até o momento do gozo para cair de queixo de volta à repetição. Tocar um foda-se é essencialmente quebrar o círculo niilista e repetitivo que toma nossas vidas de assalto com o nosso próprio consentimento, a partir da nossa própria escolha. Talvez, após quebrá-lo, apareça um novo horizonte em sua janela.
E os anos 80 ? Bem, eles hoje representam uma fórmula que é repetida em vários lugares do planeta. Não a tôa, a Dreamworks vai trazer os Transformers e a Mattel relançou o He-Man e os Comandos em Ação e vem se mantendo fiel à repetição da boneca Barbie desde a revolução juvenil (após 2ª guerra, Hobsbawm em a Era dos Extremos). Hollywood parece ter se esgotado no quesito criatividade evidenciado a partir dos remakes de filmes dos anos 70 e 80 e sequências desesperadas (p.exemplo: Efeito Borboleta 2, pra quê? Indiana Jones 4! UAU!).
Várias festas Brasil a fora "bombam" ao som dos anos 80, Kid Vinil, Léo Jaime, Ritchie, Almanaques e sites do gênero "bombam" também, pois despertam o sentimento nostáugico e saudosista de uma época "sempre" melhor. Até o gosto dos chocolates da Nestlé era melhor! Não vou jogar balde de água fria na nostalgia de ninguém, afinal eu mesmo tenho as minhas guardadas aqui dentro do peito, como amigas que, vez por outra, eu faço uma visita, mas não fico infurnado nelas, imerso nesse sentimento que nos puxa para trás e toma conta do nosso futuro conduzindo-o à repetição (quantas vezes eu já repeti essa palavra aqui ?).
Uma dessas memórias amigas dos anos 80 que sempre faz surgir um sorriso neste meu rosto pálido de fantasma é a de um muro na Av. Tarumã esquina com a Major Gabriel, neste lugar havia na época uma dessas lojas de veículos que são bem comuns na praça 14, hoje há nesta esquina um banco Itaú a novinho em folha. Bem, alma dessa minha memória amiga que me faz rir quando a encontro concentra-se na seguinte frase pichada naquele local: "Pau no cu do Botineli".
Theodoro Botinelly (o nome certo é com Y e com dois L´s, no muro estava pichado errado, evidentemente) o "Botica" , para quem não sabe, foi um candidato do PDT no início dos anos 80, onde enfrentou o candidato da situação Manoel Ribeiro. A célebre frase "Pau neles companheiros!" era de sua autoria e rolava em pleno horário eleitoral, e para nós, crianças à epoca, funcionava como um grito de guerra. O querido "Botica" era a voz da oposição contra o sistema, bem no estilo "Nós" contra "Eles". Ele foi vencido nas urnas pelo Manoel "Pracinha" Ribeiro, mas sem dúvida entrou para a história da política manauense. O seu grito de guerra nos marcou de tal forma que ele fazia falta nas eleições posteriores. Anos se passaram e certa vez ouvi alguem dizer que ele havia se vendido e se calado, por isso não ouvíamos mais o "Pau neles companheiros!". Posteriormente eu soube que ele havia falecido.
Com todo respeito a ele, a frase no muro era engraçada sim. Mas além disso, ela era reveladora também, pois mostrava naquela época que o humor sarcático e a acidez da frase original incomodava muito mais, sobretudo aqueles que compactuavam com o gupo que se estendeu por mais de 20 anos no poder: os possiveis pichadores.
Assim, cumpre dizer: Pauladas na "repetição" que nos toma a vida e nos lança ao vazio!!

sexta-feira, janeiro 05, 2007

O Nada niilista
O Niilismo é algo que se impõe como uma névoa sob o último facho de luz trazendo a escuridão e impedindo o andarilho de continuar sua travessia. É quando a própria travessia perde o sentido de ser. Pra quê seguir em frente? Pergunta o andarilho. A resposta nunca virá porque o niilismo já tampou seus ouvidos e porque agora ele passa a ser o próprio herói no momento em que o andarilho se questiona. Ele então cai sem vida no chão da trilha, vampirizado pela sua própria incerteza.

O nada niilista opta pelo passo atrás. Sempre. A cautela é sua artimanha predileta para driblar a criação e manter mundo enfadonho e entediante. Não que seja "conservador", como entendemos no sentido clássico da palavra, pois conservar algo seria no minimo acreditar nesse algo e lutar por essa crença. Mas sim desertor de toda jornada que se queira travar. É o jogador que desiste antes de jogar, é o espectador que sai antes do filme começar.

Ao contrário do nada criativo, que é a descoberta da possibilidade da criação a partir do nada (se não há ordem isso não quer dizer que haverá necessáriamente o caos, pode haver, por exemplo a criação de uma "outra" ordem ), o nada niilista é a afirmação da impossibilidade dessa criação; não por uma "preguiça" do espírito, mas pela consciência e pela crença de que tudo é sempre em vão.
O passo atrás e cauteloso dado pelo niilismo sempre nos engana, porque sempre nos dá a impressão de que se trata de uma escolha estratégica para uma decisão mais precisa, quando na verdade sabemos que este passo atrás é sempre dado como expectativa de negação da realidade, de volta ao tempo, de uma volta que se estende ao útero materno como um ato de correção, pois como já dizia Shoppenhauer "A vida é um erro".
O nada niilista é uma página em branco que quer se manter em branco.