domingo, dezembro 24, 2006

O Nada criativo.
A filosofia ocidental percorre há mais dois mil anos a mesma trilha rumo à sua consagração como pensamento oficial da humanidade. Para esta celebração, ela conta com um batalhão de ajudantes cujas funções são cuidar e manter sua a própria integridade e fluxo, impedindo que sofra alguma ameaça naquilo que lhe é mais frágil: sua relação íntima com a sabedoria.
Nesse tortuoso e trabalhoso caminho que ela optou em percorrer, caminha ao seu lado a sua sombra e alguns intrusos indesejáveis, a saber: o nada, o caos, a desordem e o acaso. E quanto mais a filosofia anda em direção ao crepúsculo, mais a sombra ao seu lado aumenta. Na tentativa vã de fugir de si mesmo, a filosofia inevitavelmente afirma mais ainda sua relação direta com a sabedoria e acaba por reconhecer os bufões que a acompanham, tornando seu percurso mais leve e mais alegre, sem um lugar fixo aonde se chegar e sem fardo a carregar. O reconhecimento do nada transforma o itinerário filosófico de cortejo fúnebre em passagem de bobos em um tom festivo. E o cortejo segue pulando e dançando ao som de suas gaitas e pandeiros, recolorindo e recriando tudo ao redor.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Little Blue Man on the corner (Azulzinho na Esquina)
"O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente."
A década de sessenta nos legou um estereótipo da figura do estudante. Revolucionários, agitadores, cheios de vida e ânsia por mudança, alguns poucos conseguiam tempo para estudar, outros se dedicavam mais para "lutar". Enfim, de um modo geral, esta categoria "estudante universitário" ficou conhecida como “revolucionária”. Contudo, temos também hoje a conhecida como “diplomária”.
Universitários hoje têm dois perfis: os do diploma e os da revolução. Nesse universo aparentemente dispare entre universidades públicas e particulares, há os que estudam à noite (pois trabalham), os que adoram a cantina (é bom conversar), os que não aceitam notas baixas (afinal estão pagando), os que compram monografias (é mais fácil) e há, é claro, os que passam o dia (vários dias; anos, na verdade) na universidade (quase sempre as públicas) fazendo a revolução.
Tanto de um lado como de outro, poucos de fato estudam. Triste ponto em comum. Poucos lêem. Poucos abstraem. E pior, pouquíssimos sentem prazer em estudar. Os dois perfis encontram-se espalhados nas públicas e particulares: diploma na mão = mercado; revolução = não mercado. Quanta pequenez! Sabem o resultado disso?Um mercado frágil e cheio de gente burra que nunca leu Goethe e universidades anêmicas cheias de carrapatos revolucionários dando prejuízo ao já falido “Sistema Nacional de Educação”.
E eis que um azulzinho (guarda de trânsito em Manaus) se arvora na esquina e se enche de autoridade porque é universitário!!! Eis que Silvio Santos mandou muitos direto para o inferno quando estes solicitavam ajuda dos universitários!!! Eis que festivais universitários, sextas culturais, festas de formaturas e afins são quase sempre a celebração do mau gosto e do brega. Pra quê então a universidade?Perguntem-se: Pra quê a UFAM ? Pra quê a UNINORTE e outras?Lembre-se: Quando um azulzinho fizer cara feia e lhe multar, ao invés de se ajoelhar pedir para anular a multa (ato inútil) , pergunte a ele o que acha de Dom Quixote ? Marques de Sade? Ou sobre o liberalismo de Adam Smith...e observe atentamente, em câmera lenta, muito lenta mesmo a sua expressão facial.
É isso. Sejamos Felizes!

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Terror e Luta de Classes.

Adoro ler comentários e análises de determinados assuntos quando feitos por intelectuais de esquerda. Sobretudo quando estes sabem escrever (acreditem, alguns dos "companheiros" realmente sabem escrever). Eis que eu estava atrás de uma resenha sobre o filme de 1971, chamado Strew Dogs (Sob o Domínio do Medo, no Brasil) e acabei achando um site chamado www.telacritica.org . Logo de cara eu percebi que se trata de um site criado por gente ligada a sociologia com a direção desregulada à esquerda (analogia à falha mecânica na direção dos automóveis), até aí tudo bem. O que me chamou atenção foi o conjunto de análises dos filmes de terror e ficção científica. E aqui vai o veneno: é muito prazeroso ver como estes intelectuais patinam em suas análises como se estivessem sobre um lago congelado ao bel prazer.

Tranqüilamente conseguem ver nos filmes que analisam os indícios definitivos de uma crise do capital, e nos oferecem uma leitura previsível com um fundo dialético onde o próprio capitalismo enuncia, nas entrelinhas, o seu fim próximo através da crise burguesa que é projetada na tela. O cinema de terror e ficção científica, por serem os mais superficiais a partir desta ótica, são os que, inversamente, mais lançam o S.O.S capitalista. E parece que o próprio George Romero - mestre dos filmes de zumbi - aderiu a isso, quando em seu "Terra dos Mortos" de 2005, propõe uma "luta de classes" entre mortos e vivos dos quais os mortos levam a melhor no final dando um clima de "revolução". Confesso que me decepcionei com Romero, mas o perdôo toda vez que assisto seus anteriores.

Eu ainda prefiro pensar que filmes de terror são para dar medo, o medo como forma de diversão alienada mesmo. Qual é o problema ? Por que esse alerta da consciência tem de estar constantemente ligado ?? Não nos é mais reservado nenhum momento de embriaguez ? Nem que seja assistindo Drácula de 1936? Se eu for seguir esta metodologia de vocês eu irei ver luta de classes em tudo, até no desenho do Bob Esponja. Falem sério!! E lhes digo: vocês não acreditam nisso que propõe, no fundo é isso. Vocês gozam com a prática de achar a
agulha no meio palheiro capitalista mas não acreditam na "revolução" propriamente dita, porque sabem- e omitem - que a carne é fraca e o capitalismo não é só uma imposição dos ricos do G-7, ele está espalhado em todas as classes e segue em todas as direções que lhe convém.

E que ainda que os argumentos "marxóides" de vocês sejam válidos (e eles sempre o são já que devido à genialidade de Marx é possivel fazer a leitura de qualquer coisa a partir dele, até mesmo na culinária é possivel pensar em lutas de classe, acredite!) é preferível esquecer isso tudo, se desarmar ideológicamente, preparar o filme e fazer pipoca. Caros amigos do Telacritica.org, o fato de vocês se acharem sujeitos críticos não vai lhes garantir conquistar a mulher dos seus sonhos. Mulheres de verdade, bonitas, cheirosas, charmosas e capitalistas não ligam para esse "talento" critico que vocês possuem, isso as entedia. Acho que vocês estão no caminho errado.

Abaixo duas colocações de vocês que me deram vontade rir:

1.
"Os óculos escuros utilizados por Schwarzenegger são a representação da falta de subjetividade, onde não temos mais o acesso ao olhar. Personagens de óculos escuros estilizados, inclusive como o de Matrix, tendem a representar a negação do olhar, o vazio da alma, que é a negação do sujeito."

O que mais faltou dizer aqui ? Que a Ray-ban é uma multi-nacional que explora mão de obra barata na China ? Ah..me poupem...vocês não entedem nada sobre estilo...vão ouvir Roy Orbison ou Os irmãos cara-de-pau. Que bobagem isso, heim ? Desde quando óculos escuros escondem a alma ?
*Reginaldo Rossi tb serve eheheheheh!

2.
"O operador do Tela Crítica deve atuar como facilitador ou mediador da prática reflexiva, procurando evitar a dispersão que é comum numa análise de filme(...)
"(...)O maior perigo da análise do filme é o subjetivismo."

Ora, ora..até quando vocês manterão a negação do indivíduo com seu universo subjetivo? Então o indivíduo só é válido se for dentro da perspectiva de sujeito crítico ? Por isso vocês têm medo do devaneio, porque o devaneio, a embriaguez, o delírio são bestas dificeis de serem enjauladas por uma ótica medíocre e previsível como esta que eu chamo de marxóide. O fato é: vocês não sabem ainda como lidar com o homem, porque colocam para debaixo do tapete as suas vontades. O velho erro da esquerda: negar o homem e seus desvios e esquecer que há outras formas de revolução.
"As entrelinhas são apenas espaços que separam as linhas, nelas não habita nenhuma verdade."