quarta-feira, julho 02, 2014

O que está havendo com a crítica em nosso país?

Pai, por que aquela placa na calçada diz:”Brasil, país rico é país sem pobreza” se está cheio de gente pedindo esmola nas ruas ?”
Thomas, meu filho, com 7 anos de idade, em 2013

A pergunta que abre o texto mostra um pensamento crítico do meu filho de sete anos, é um pensamento em estado bruto dada sua idade, mas é crítico pois ele fez uma associação entre o que é dito no slogan do governo e o que é visto na realidade. Mas há algo que me chama a atenção e que é também objeto de preocupação no atual cenário político nacional: a depreciação do pensamento crítico em prol de um projeto de poder.


Aprendemos na escola e depois nas universidades (ou pelo menos deveríamos aprender) que é necessário não só repoduzir determinado conteúdo, mas também observar, analisar e se posicionar de forma crítica; algo pelo qual me arrisco dizer ser a marca do pensamento ocidental, sobretudo a partir de Sócrates, onde a nuance política ganha destaque na esfera do conhecimento.

Deste modo, a crítica não é um mero adereço, um hobby, um bibelô, um passa tempo ou mesmo uma catarse. A crítica é o que nós, enquanto animais políticos, possuímos para alterar a realidade, para mudar seu curso para criar e moldar sua trajetória, de modo que isso me permite dizer que o presente é feito criticamente, “aqui e agora”.

Contudo, estranhamente hoje há um contorcionismo conceitual promovido por artistas, intelectuais e militantes que dão apoio ao governo que entortam de tal maneira a ideia de crítica de modo que a mesma se confunde com o seu contrário: crítica e alienação confundem-se, de modo que quem hoje se posiciona de forma contrária às políticas do governo é alienado ou, nos casos mais extremos, radical. E isso se estende inclusive às vozes críticas que vem das ruas. Deste modo, seguindo esta lógica, nunca se é simplesmente e verdadeiramente “crítico”, mas sempre se é verdadeiramente alienado.

Obviamente há no cenário atual todos os tipos de crítica, das mais simples às mais complexas. Há críticas sem um objeto específico, no estilo de “contra tudo que está aí”, há aquelas que são na verdade reclamações superficiais que não alcançam a profundidade do problema e há aquelas falam alto, gritam mas são vazias e inócuas. Contudo, neste caldeirão típico da democracia moderna, há críticas que buscam a lucidez e o esclarecimento mas são postas junto às demais justamente porque não há interesse que se esclareça algo que, segundo o discurso de defesa, beira à perfeição, portanto não merece ser alvo de nada.


E aqui habita o cerne da minha preocupação, pois a atividade crítica está sendo conduzida a uma vala comum. Tanto faz se sua crítica é elaborada ou não, neste ambiente ela irá pra mesma vala de um Jair Bolsonaro, por exemplo. A atividade crítica ao governo tornou-se um novo tipo de sacrilégio político e tanto faz se você usa ou não usa o termo “petralha” (como no meu caso, onde eu não uso, pois tenho profundo respeito a muitos membros solitários do que eu chamo de “pequeno” PT, porque sei pessoalmente dos seus comprometimentos políticos, como no caso do Deputado José Ricardo, aqui em Manaus).

Tanto faz, seu posicionamento, por mais cordial e elaborado que seja, é lançado e batido no mesmo liquidificador relativista de onde sai a massa para formar termo “coxinha”, aplicado a todo e qualquer crítico ao governo, do velho revoltado na fila do banco, que pede a volta dos militares, ao liberal, que anseia por uma política menos paternalista às grandes corporações e que oxigene mais o mercado de possibilidades empreendedoras às pequenas empresas. Tanto faz, todos são “reaças”, coxinhas e de direita.

Qual o objetivo disso ? Trata-se de algo extremamente ruim para a sociedade brasileira, pois além de dividi-la, associa o exercício crítico de qualquer um que se oponha com retrocesso e torna essa prática propriedade exclusiva de governistas. Ao meu ver e sem exageros, um ato verdadeiramente reacionário. Por outro lado, isso revela que toda tentativa de esvaziamento à crítica mostra um claro interesse de que a mesma não prospere, pois todos nós sabemos, sobretudo os que operam contra, que ao final das contas cabe a crítica o poder de fazer cair as máscaras, muros, sistemas, cargos, políticas e governos.

Diante disso, talvez possamos concluir que quanto maior for o monitoramento maior é o medo de que a “casa caia”. Assim, a voz que vem das ruas é muitas vezes confusa? Sim. É também muitas vezes manipulada por grupos com outros interesses ? Sim, certamente. É uma voz que reclama em várias direções lhe faltando clareza e muitas vezes sendo contraditória ? Sim, é. Mas independente disso tudo, é algo que possui sua força, sua autenticidade e clareza em pelo menos um aspecto: revelar, não uma crise política, pois a voz das ruas é a própria essência da política, mas sim uma crise da representação político-partidária em nosso país, e isso não é só contra o governo, mas também contra ele.


De minha parte, ainda mais como filósofo, irei continuar apontando os problemas de forma lúcida e clara sem disseminar ódio. Pois essa demência diante dos pensamentos contrários é a prova de imaturidade política do governo  e também de quem é contra o governo mas não se dá ao trabalho de fundamentar suas críticas.

Um governo inteligente ouviria todas as vozes, sobretudo as contrárias, pois é na crítica que você pode realmente perceber suas falhas. Porém, o caminho mais fácil é o de colocar tudo no mesmo saco de trigo pra fazer coxinhas e e outros salgados, e o caminho mais fácil é geralmente a primeira opção dos incompetentes. 

Matheus Gondim de Freitas Pinto é filósofo com mestrado em educação, professor de filosofia na rede pública estadual, nano-empresário ou melhor, picolezeiro e músico amante de blues, rockabilly, rock n roll e jazz.

segunda-feira, dezembro 16, 2013

POBRE É UMA MERDA

Antes que você fique indignado com o título da postagem pense um pouco sobre a seguinte questão: "Quem em sua sã consciência vai falar fazer críticas aos pobres ou a qualquer coisa que os ajude?"

O presente texto não visa culpar os pobres nem torná-los vítimas, o que se quer aqui é avaliar qual o papel que as classes menos favorecidas acabam tendo que assumir diante das estratégias políticas de hoje. E de como essas estratégias acabam criando um novo tipo de pobreza.

Ora, os pobres são a parte mais frágil e preocupante da sociedade, e justamente por isso são transformados em capital (substância material a qual se atribui algum valor) sobretudo quando o interesse é político-eleitoral ou resumindo, quando o interesse é o poder. 

Nesse sentido é necessário uma análise, mesmo que esta inclua a pobreza não apenas como um fato social o qual devemos nos preocupar, mas como uma peça de importante valor no jogo político.
 
Assim, o presente texto tenta expor como os pobres estão servindo como elementos  fundamentais no processo de obtenção e manutenção do poder politico de  gestão do estado que vigora a todo vapor no Brasil. Vale lembrar que o texto pretende abir um espaço para uma discussão sobre essa questão, aproveitando o espaço virtual e seus desdobramentos reais para tecer argumentos coerentes que se distanciam dos argumentos raivosos de uma pseudo-nova-direita que tem se feito muito presente.

O Programa Bolsa Família, que visa em última análise acabar com a extrema pobreza no Brasil, é efetuado pelo governo federal e gera inegavelmente um grande benefício  aos nossos irmãos brasileiros, mas é também uma jogada política  perfeita pois além de ajudar os mais pobres (e realmente ajuda, pois no mundo do consumo o governo tem ajudado a criar  consumidores), cria para o governo uma blindagem  contra críticas, pois como eu disse no começo: criticar um beneficio social não basta bons argumentos, é preciso ter coragem, pois hoje, qualquer argumento questionador que se faça, por mais leve que seja,  já o enquadra no espaço reservado ao "vilão reacionário de direita", espaço esse defendido pelos raivosos de uma pseudo-nova-esquerda. É que o espaço de discussão política inteligente em nosso país está cada vez mais sem oxigênio, pois em todo lugar existem reacionários, seja de pretensa esquerda ou pretensa direita que inviabilizam qualquer tentativa de  lucidez.

Aqui cabe separar as coisas, quando se fala do benefício não estamos falando do beneficiado, pois inegavelmente era inaceitável chegarmos ao séc XXI com aquela enorme faixa de pobreza que havia nos anos 80 e 90 em nosso país, além disso, é papel do estado incluir as pessoas que dele fazem parte, até mesmo para fortalecê-lo. 

E é sobre essa inclusão que vamos falar agora, não a inclusão estatística, mas a inclusão de fato, aquela que permite você não só escolher qual prato de comida ou qual roupa comprar mas que permite, pela processo de educação que você passou e pelos conhecimentos que adquiriu ao longo desse trajeto, escolher posicionamentos políticos para seu país. 

Estamos vivendo os primeiros passos do séc XXI, e  ainda existem várias décadas pela frente, décadas que serão vivenciadas pelas gerações que deveriam estar AGORA recebendo formação educacional, cultural e formal (científica), mas que hoje são mais consideradas pontos estatísticos escamoteados do que seres humanos. Se houvesse mais cuidado, com a pessoa em si, e não com a estatística, haveria menos pobreza. Pois é engano achar que dar dinheiro ao pobre faz com que ele deixe de ser pobre. Cá entre nós, pobreza é muito mais do que não ter dinheiro. 


Obviamente é da educação que eu estou falando. Ela é um direito básico, mas curiosamente não vemos movimentação das Ongs dos Direitos Humanos em relação a isso, apoiando os professores nas ruas, por exemplo. Talvez porque politicamente isso é algo inviável, afinal os movimentos dos Direitos Humanos tem outras prioridades em suas agendas, mas falham por não exigir educação de qualidade, uma vez que em tese uma boa educação em nosso país iria resolver boa parte desses problemas que hoje são enfrentados, como por exemplo essa questão da maioridade penal. Se o jovem tivesse desde de sua infância uma educação séria mesmo (e apenas baseada em estatísticas) certamente (creio eu) não adentraria no mundo do crime, porque não estaria desde cedo à margem da sociedade. Quem é professor entende o que eu estou falando, mas creio que outras pessoas podem entender isso também. 

Daí eu me deparo com isso no UOL: 

"Adeptos do chamado "funk de ostentação", são em geral garotos pobres tentando forçar a entrada no mundo do consumo, fingindo-se de íntimos do luxo."  


Isso é a prova de que há um enorme descompasso nessa inclusão defendida pelo governo, uma vez que este foca na inclusão via consumo e não na inclusão via educação e cultura. Sob o argumento de que é necessário acabar com a pobreza, cria-se um mecanismo de fortalecimento do consumo e de quebra uma indústria do endividamento. O que é interessante disso é que palavras como: consumo, lucro e endividamento fazem parte do livro de receitas do capitalismo liberal, aliás, o indivíduo perfeito para o capitalismo é justamente esse que está sendo criado e mantido pelo governo: o burro, o ignorante mas com dinheiro. Pois compra sem questionar o real significado e valor do seu objeto de compra.

O que me faz lembrar de uma aula do Prof. José Alcimar, onde ele lembrava o porquê do PROCON ser uma instituição que tem pleno funcionamento com uma demanda inesgotável em toda época do ano, sua explicação baseava-se no dado certeiro de que o cidadão só se vê como tal se for um cidadão de consumo, ou seja, o Direito do Consumidor está, como prova as imensas filas do órgão, acima dos demais direitos, até mesmo o da Educação de qualidade. É facil ver alguém indignado com sua operadora de celular, mas é dificil ver alguém reclamando do sistema educacional e de sua importância. É fácil ver alguém reclamar de uma produto de consumo e é raro ver alguém reclamar de direitos universais.

Isso pode ser um indício de que nosso país está entregue à ignorância, à barbárie. Mesmo sendo um país rico, é um país que não sabe o que quer. Porque não existe aqui projetos para daqui 50 anos, tudo é "feito nas coxas", visando a proxima eleição, ou seja, não há projeto de país e sim projeto de poder e isso gera um paradoxo: poder é tudo e nada ao mesmo tempo. Como assim? Com poder você tem como viabilizar projetos, ideias, planos, etc. Poder sem projetos, planos e afins é poder pelo poder ou seja, nada. É a vontade pura que se altera a cada manhã, a cada segunda feira a cada início de mês. É uma vontade que quer mas não sabe o que quer e quando questionada cita Marx, Maquiavel ou Smith dependendo do lado que acredita estar, mas na verdade não está em lugar nenhum a não ser presa dentro de si mesma. 

Sobre a enorme faxia de pobreza que havia nos anos 80 e 90 citada anteriormente, cumpre reconhecer que ela diminuiu, mas ainda é persistente e tende agora a ficar mais forte graças agora a um novo tipo de pobre: o pobre com poder de consumo e a produção cultural de hoje é um ótimo termômetro para verificarmos isso, vejam este trecho do MC Daleste: 

Hoje tem baile funk, me trajei no estilo e liguei no ID da bandida 
Quando der meia noite eu vou te buscar, convida suas amiguinhas, tá bom? 
Conta pra ninguém, também não pode tirar foto 
Quando amanhecer eu vô levar vocês pra dar um rolé de helicóptero 
A pegação é lá no ar, aproveita que nós tá bancando 
Enquanto geral tá dormindo, ninguém tá sabendo, mas eu lucrando, então 

refrão

Ostentação fora do normal 
Quem tem motor faz amor 
Quem não tem passa mal.

 

Em um passado não muito distante, quando a "esquerda" não estava no poder, havia um clichê muito comum no âmbito educacional repetido diariamente, ele dizia basicamente que:

Os governos não investem em educação e cultura porque são conservadores e querem conservar a ignorância em larga escala pois um povo burro é mais fácil de ser manipulado, o que lhes garante a manutenção do poder. 
 
Apesar de ser um clichê, esse pensamento político-educacional é verdadeiro.  Mas a pergunta que eu deixo no ar é: E hoje, esse pensamento ainda é  válido? Ou seja, vamos "conservar" as coisas como estão ? E não adianta passar a responsabilidade apenas para os governos estaduais e municipais, pois o projeto educacional brasileiro (se é que existe um) emana do Ministério da Educação para toda a nação.


Bibliografia:
ADORNO, T. Indústria cultural e sociedade. Seleção de textos Jorge Mattos Brito de Almeida. Traduzido por Juba Elisabeth Levy... [et a1.]. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
ADORNO, T. Crítica de la Cultura y Sociedad. (Obra Completa, vol. 10) Madrid: Akal, 2008.
HOBSBWAN, Eric (2002), “ A Era dos Extremos: historia breve do século XX. 1914-1991”, Lisboa: Editora Presença. MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 182p.
PLATÃO, A República (Da Justiça). Edipro. São Paulo. 2006.





domingo, fevereiro 11, 2007

Também Rir faz bem!
"...porque fantasmas também riem."


Andei dando uma olhada nesse blog e achei que ele estava precisando de um pouco mais de humor. Resolvi postar esse link de video que a princípio eu achei que era algo banal. Bem, na verdade é algo banal, mas me fez rir um bocado. Realmente algumas pessoas roubam a cena mesmo! Divirtam-se!
Abraço!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Zombie Walk - Manaus - 2007

"Manaus é a cidade dos mortos. A Manaus que você conhece está sobreposta sobre MANAOS, a terra dos mortos: etnias soterradas que vez por outra mostram suas caras em algum canteiro de obras na cidade. E isso não é algo que se reduz ao centro comercial (que na verdade é o sul da cidade), apenas à praça D. Pedro II; urnas funerárias de cerâmica brotam na região norte, no bairro Nova Cidade, aos cacos, devido à leveza dos tratores agindo sob o lema: "é preciso terraplenar". Os cacos ainda foram "salvos" por causa dos trabalhadores da obra que tiveram a sensibilidade de perceber que aquelas peças não fazem parte do "nosso" mundo, pois são de outra "dimensão histórica", de outra época, elas pertencem aos "outros" que vivem sob nossos pés."
"O IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, através de sua representante no Amazonas, Bernadete Andrade, vem desenvolvendo uma luta acirrada em defesa da preservação dos sítios arqueológicos da Praça D. Pedro II e do bairro Nova Cidade. Conta com o apoio do Ministério Público Federal, graças à sensibilidade do procurador Eduardo Barragan. No entanto, muitos empreiteiros que constroem casas na área do Nova Cidade permanecem insensíveis e não assumem suas responsabilidades."1
Situação paradoxal onde o peão tem mais sensibilidade do que o patrão emprenteiro (E agora Mestre Marivon?) Claro que não é tão paradoxal assim se observada pela ótica do capitalismo burro, soterrador e destruidor de riquezas que guia a cabeça de alguns tomadores de decisão.
Porém eis que chegou à minha cripta a informação de que os mortos de MANAOS virão tomar conta de Manaus em data incerta ainda, a contar a partir de abril. Trata-se da Zombie Walk Manaus, algo que no português corrente seria uma"Parada Zumbi". Uma caminhada de mortos vivos sobre os asfaltos esburacados de Manaus (dizem até que o portal de onde os zumbis vão sair é uma dessas crateras asfálticas conhecidas pelo nome de Porfirão).
Um percurso de alguns quilômetros onde os zubis desta terra reivindicarão seu espaço em Manaus. É uma mobilização política ou coisa de Emos ? Me pergunta alguém. Respondo: Será por pura diversão, meu caro, afinal, como serão as expressões faciais das pessoas de bem, das familias manauaras de classe média ao verem uma legião de zumbis pela Djalma Batista, parando o trânsito ? Como os de Manaus receberão os MANAÓS ?
As consequências são sempre políticas, mas o ato inicial é de pura diversão, porque no final do percurso haverá shows de bandas locais, como uma festa, até porque o Rock é o único que consegue unir diversão à coisa séria. E existe algo mais político do que os mortos se fazerem mais vivos que os vivos da cidade ?
Sim, essa cidade precisa de vida contra esse niilismo criado a partir do pólo industrial. O fantasma, que sempre nos apavora, de que a cidade depende vitalmente dessa entidade chamada "Polo Industrial da Zona Franca de Manaus", que opera como um portal que emana vida à cidade. FODA-SE o Pólo!! Sabemos que um dia ele morrerá como os MANAÓS morreram, mas a cidade continuará...
Sobre os EMOS, eles serão bem vindos assim como todas as "tribos" urbanas que quiserem participar, mas sem duvida não será um evento EMO.
Finalizando e parafraseando a célebre frase da Noite dos Mortos Vivos "Quando não houver mais lugar no Inferno, os mortos caminharão sobre a Terra"
No nosso caso seria, "Quando a mesmice, o tédio e a repetição tomarem conta de Manaus, os mortos caminharão sobre ela para fazer a festa"
1 Trecho extraído do TAQUIPRATI (Aê Bessa, consegui dar Ctrl+C no seu site, qualquer idiota conseguiria, sugiro você liberar de vez... lançou ao mundo é do mundo)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

"Pau neles! Companheiros!"
Theodoro Botinelly


Por um exorcismo dos "Anos 80"

Somos seres repetitivos. Fazemos as mesmas coisas (ou boa parte delas) todos os dias. A repetição toma conta da nossa vida transformando-nos em pêndulos. Pêndulos que guardam no interior do espaço que se compreende entre o "pra lá" o e "pra cá" tudo aquilo que chamamos de "rotina", mas na verdade a nossa vida conseguiu romper com a força do estático e adquirir o movimento, porém como ainda não aprendemos a lidar com esse movimento, assumimos de um modo geral a figura do relógio da sala, que se movimenta ali, parado junto a parede. Uma ilusão de movimento ? Uma ilusão de mudança ?
Atletas repetem seus exercicios para ver se conseguem, ali adiante, fazer o mesmo exercício repetido de forma melhorada. Professores repetem conteúdos já dados. Políticos repetem os mesmos discursos. Os pais repetem os mesmos erros. Os analistas repetem as mesmas análises. O cozinheiro repete a mesma receita. Médicos repetem as mesmas operações e os mesmos diagnósticos. Músicos repetem a mesma nota. Juízes repetem a mesma sentença. Poetas repetem as mesmas rimas e as mesmas imagens. A Globo repete os mesmos filmes. Roberto Carlos repete o mesmo show todo ano. O Porão do Alemão (para quem vive em Manaus) repete sempre as mesmas musicas. O SBT ainda repete o Chaves...os dias se repetem, as épocas se repetem.
Diante do nada, de um horizonte vazio onde o olhar nada encontra, nos resta olhar para trás e repetir, repetir e repetir. Tocar um foda-se à repetição é uma arte genuína e única. Não é uma mera revolta adolescente, pois revoltas assim costumam se repetir na adolescência, tanto que já estão devidamente catalogadas nos compêndios de 300 páginas da psicologia juvenil e afins. Tocar um foda-se não é como tocar uma punheta, e se isolar em um mundo fictício onde você tem acesso a quem quiser no lugar onde quizer, pelo menos até o momento do gozo para cair de queixo de volta à repetição. Tocar um foda-se é essencialmente quebrar o círculo niilista e repetitivo que toma nossas vidas de assalto com o nosso próprio consentimento, a partir da nossa própria escolha. Talvez, após quebrá-lo, apareça um novo horizonte em sua janela.
E os anos 80 ? Bem, eles hoje representam uma fórmula que é repetida em vários lugares do planeta. Não a tôa, a Dreamworks vai trazer os Transformers e a Mattel relançou o He-Man e os Comandos em Ação e vem se mantendo fiel à repetição da boneca Barbie desde a revolução juvenil (após 2ª guerra, Hobsbawm em a Era dos Extremos). Hollywood parece ter se esgotado no quesito criatividade evidenciado a partir dos remakes de filmes dos anos 70 e 80 e sequências desesperadas (p.exemplo: Efeito Borboleta 2, pra quê? Indiana Jones 4! UAU!).
Várias festas Brasil a fora "bombam" ao som dos anos 80, Kid Vinil, Léo Jaime, Ritchie, Almanaques e sites do gênero "bombam" também, pois despertam o sentimento nostáugico e saudosista de uma época "sempre" melhor. Até o gosto dos chocolates da Nestlé era melhor! Não vou jogar balde de água fria na nostalgia de ninguém, afinal eu mesmo tenho as minhas guardadas aqui dentro do peito, como amigas que, vez por outra, eu faço uma visita, mas não fico infurnado nelas, imerso nesse sentimento que nos puxa para trás e toma conta do nosso futuro conduzindo-o à repetição (quantas vezes eu já repeti essa palavra aqui ?).
Uma dessas memórias amigas dos anos 80 que sempre faz surgir um sorriso neste meu rosto pálido de fantasma é a de um muro na Av. Tarumã esquina com a Major Gabriel, neste lugar havia na época uma dessas lojas de veículos que são bem comuns na praça 14, hoje há nesta esquina um banco Itaú a novinho em folha. Bem, alma dessa minha memória amiga que me faz rir quando a encontro concentra-se na seguinte frase pichada naquele local: "Pau no cu do Botineli".
Theodoro Botinelly (o nome certo é com Y e com dois L´s, no muro estava pichado errado, evidentemente) o "Botica" , para quem não sabe, foi um candidato do PDT no início dos anos 80, onde enfrentou o candidato da situação Manoel Ribeiro. A célebre frase "Pau neles companheiros!" era de sua autoria e rolava em pleno horário eleitoral, e para nós, crianças à epoca, funcionava como um grito de guerra. O querido "Botica" era a voz da oposição contra o sistema, bem no estilo "Nós" contra "Eles". Ele foi vencido nas urnas pelo Manoel "Pracinha" Ribeiro, mas sem dúvida entrou para a história da política manauense. O seu grito de guerra nos marcou de tal forma que ele fazia falta nas eleições posteriores. Anos se passaram e certa vez ouvi alguem dizer que ele havia se vendido e se calado, por isso não ouvíamos mais o "Pau neles companheiros!". Posteriormente eu soube que ele havia falecido.
Com todo respeito a ele, a frase no muro era engraçada sim. Mas além disso, ela era reveladora também, pois mostrava naquela época que o humor sarcático e a acidez da frase original incomodava muito mais, sobretudo aqueles que compactuavam com o gupo que se estendeu por mais de 20 anos no poder: os possiveis pichadores.
Assim, cumpre dizer: Pauladas na "repetição" que nos toma a vida e nos lança ao vazio!!

sexta-feira, janeiro 05, 2007

O Nada niilista
O Niilismo é algo que se impõe como uma névoa sob o último facho de luz trazendo a escuridão e impedindo o andarilho de continuar sua travessia. É quando a própria travessia perde o sentido de ser. Pra quê seguir em frente? Pergunta o andarilho. A resposta nunca virá porque o niilismo já tampou seus ouvidos e porque agora ele passa a ser o próprio herói no momento em que o andarilho se questiona. Ele então cai sem vida no chão da trilha, vampirizado pela sua própria incerteza.

O nada niilista opta pelo passo atrás. Sempre. A cautela é sua artimanha predileta para driblar a criação e manter mundo enfadonho e entediante. Não que seja "conservador", como entendemos no sentido clássico da palavra, pois conservar algo seria no minimo acreditar nesse algo e lutar por essa crença. Mas sim desertor de toda jornada que se queira travar. É o jogador que desiste antes de jogar, é o espectador que sai antes do filme começar.

Ao contrário do nada criativo, que é a descoberta da possibilidade da criação a partir do nada (se não há ordem isso não quer dizer que haverá necessáriamente o caos, pode haver, por exemplo a criação de uma "outra" ordem ), o nada niilista é a afirmação da impossibilidade dessa criação; não por uma "preguiça" do espírito, mas pela consciência e pela crença de que tudo é sempre em vão.
O passo atrás e cauteloso dado pelo niilismo sempre nos engana, porque sempre nos dá a impressão de que se trata de uma escolha estratégica para uma decisão mais precisa, quando na verdade sabemos que este passo atrás é sempre dado como expectativa de negação da realidade, de volta ao tempo, de uma volta que se estende ao útero materno como um ato de correção, pois como já dizia Shoppenhauer "A vida é um erro".
O nada niilista é uma página em branco que quer se manter em branco.

domingo, dezembro 24, 2006

O Nada criativo.
A filosofia ocidental percorre há mais dois mil anos a mesma trilha rumo à sua consagração como pensamento oficial da humanidade. Para esta celebração, ela conta com um batalhão de ajudantes cujas funções são cuidar e manter sua a própria integridade e fluxo, impedindo que sofra alguma ameaça naquilo que lhe é mais frágil: sua relação íntima com a sabedoria.
Nesse tortuoso e trabalhoso caminho que ela optou em percorrer, caminha ao seu lado a sua sombra e alguns intrusos indesejáveis, a saber: o nada, o caos, a desordem e o acaso. E quanto mais a filosofia anda em direção ao crepúsculo, mais a sombra ao seu lado aumenta. Na tentativa vã de fugir de si mesmo, a filosofia inevitavelmente afirma mais ainda sua relação direta com a sabedoria e acaba por reconhecer os bufões que a acompanham, tornando seu percurso mais leve e mais alegre, sem um lugar fixo aonde se chegar e sem fardo a carregar. O reconhecimento do nada transforma o itinerário filosófico de cortejo fúnebre em passagem de bobos em um tom festivo. E o cortejo segue pulando e dançando ao som de suas gaitas e pandeiros, recolorindo e recriando tudo ao redor.